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Alfenas, MG, Brazil
PENSADOR POR NATUREZA, GEÓGRAFO POR OPÇÃO.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Imunidade natural contra HIV

Quando alguém é infectado com o vírus HIV, é geralmente uma questão de tempo até que desenvolva Aids – período que pode ser ampliado com a introdução de tratamento medicamentoso, especialmente nos estágios iniciais da infecção.

Mas há um pequeno número de indivíduos que, mesmo exposto ao vírus, leva muito tempo para apresentar sintomas. E, em alguns casos, a doença simplesmente não se desenvolve.

Na década de 1990, pesquisadores mostraram que, entre aqueles que são naturalmente imunes ao HIV – que representam 1 em cada 200 infectados –, uma grande parte carregava um gene específico, denominado HLA B57. Agora, um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos revelou um novo fator que contribui para a capacidade desse gene em conferir imunidade.

O grupo, liderado pelos professores Arup Chakraborty, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e Bruce Walker, do Instituto Médico Howard Hughes, descobriu que a presença do HLA B57 faz com que o organismo produza mais linfócitos T – glóbulos brancos que atuam na proteção contra infecções.

Pessoas com o gene têm um número maior de linfócitos T, que se grudam fortemente com mais pedaços do HIV do que aqueles que não têm o gene. Isso aumenta as chances de os linfócitos reconhecerem células que expressam as proteínas do vírus, incluindo versões mutantes que surgiram durante a infecção.

Esse efeito contribui para o controle maior da infecção pelo HIV (e por qualquer outro tipo de vírus que evolua rapidamente), mas também torna as pessoas mais suscetíveis a doenças autoimunes, nas quais os linfócitos T atacam as próprias células do organismo.

“A descoberta poderá ajudar pesquisadores a desenvolver vacinas que provoquem a mesma resposta ao HIV que ocorre naqueles que têm o gene HLA B57. O HIV está se revelando lentamente. Essa descoberta representa outro ponto em nosso favor na luta contra o vírus, mas ainda temos um caminho muito longo pela frente”, disse Walker.

“Esse é um estudo notável, que começou com uma observação clínica, integrou observações experimentais, gerou um modelo valioso e derivou desse modelo um conhecimento profundo do comportamento do sistema imunológico humano. Raramente alguém tem a oportunidade de ler um artigo que expande tão grandemente o conhecimento humano”, disse David Baltimore, professor de biologia do Instituto de Tecnologia da Califórnia e ganhador do Nobel de Medicina e Fisiologia em 1975.

O artigo Effects of thymic selection of the T-cell repertoire on HLA class I-associated control of HIV infection (DOI:10.1038/nature08997), de Arup Chakraborty e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Boneca primata


Um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos indica que, em condições naturais, os filhotes de chimpanzés tendem a escolher brincadeiras diferentes de acordo com seu sexo, como ocorre em geral com as crianças humanas.

Embora tanto os jovens chimpanzés machos como fêmeas brinquem com galhos, as fêmeas o fazem com mais frequência e, eventualmente, tratam os gravetos como se fossem mães chimpanzés cuidando de seus bebês. O estudo foi publicado na edição de dezembro da revista Current Biology, uma publicação da Cell Press .

As descobertas sugerem, de acordo com os autores, que a tendência das meninas a brincar mais com bonecas que os meninos – um fenômeno observado de forma consistente em todas as culturas – não é apenas resultado de uma socialização estereotipada em relação ao sexo, mas é parcialmente proveniente de uma “preferência biológica”.

“Essa é a primeira evidência em uma espécie de animal em condições selvagens de que machos e fêmeas brincam com objetos de forma diferente”, disse um dos autores, Richard Wrangham, da Universidade de Harvard.

Estudos anteriores com macacos em cativeiro também sugeriam uma influência biológica na escolha dos brinquedos. Brinquedos humanos estereotipados em relação ao sexo foram oferecidos aos macacos filhotes e as fêmeas preferiam as bonecas, enquanto os machos se mostraram mais aptos a lidar com os “brinquedos de garotos”, como caminhõezinhos.

As novas observações foram feitas durante 14 anos, com a comunidade de chimpanzés Kanyawara, no Parque Nacional de Kibale, em Uganda, por Wrangham e pela coautora do estudo, Sonya Kahlenberg, do Bates College, no estado do Maine.

Os cientistas descobriram que os chimpanzés utilizam galhos de quatro maneiras diferentes: como sondas para investigar buracos que possam conter água ou mel, como apoio ou arma em confrontos agressivos, em brincadeiras solitárias ou sociais e em comportamentos descritos pelos pesquisadores como “carregamento de galhos”.

Wrangham afirmou que, ao longo dos anos de observação, a equipe de cientistas percebeu que o carregamento de galhos era visto de tempos em tempos. Eles suspeitaram que as fêmeas reproduziam esse comportamento com mais frequência que os machos. O estudo comportamental mais detalhado agora confirmou essa suspeita.

“Pensamos que, se os galhos estivessem fazendo o papel de bonecas, as fêmeas fariam o carregamento de galhos com mais frequência que os machos e que elas iriam parar de fazer isso quando tivessem seus próprios bebês. Agora descobrimos que ambas as hipóteses estavam corretas”, disse Wrangham.

De acordo com os cientistas, durante as observações os filhotes fêmeas às vezes levavam seus galhos para ninhos diurnos onde ficavam descansando e, eventualmente, brincavam com eles de uma maneira que evocava as brincadeiras maternas.

Não está claro ainda se essa forma de brincadeira é comum entre os chimpanzés. Até agora, ninguém havia descrito o carregamento de galhos como uma forma de brincadeira, apesar do interesse considerável, entre os pesquisadores que trabalham com chimpanzés, pela descrição de uso de objetos.

“Isso nos faz suspeitar que o carregamento de galhos é uma tradição social que se disseminou na nossa comunidade e não em outras”, disse Wrangham.

Como o carregamento de galhos é raro mesmo entre os chimpanzés de Kanyawara, estudados por Wrangham e Kahlenberg, eles não têm certeza se pesquisadores que estudam outras comunidades poderiam relatar a ausência do comportamento.

Eles comentaram que as brincadeiras de chimpanzés são geralmente descritas de maneira precária, pois as comunidades desses animais são normalmente pequenas e com poucos filhotes ao mesmo tempo.

Se for descoberto que o carregamento de galhos é algo único dos chimpanzés de Kanyawara, será “o primeiro caso de uma tradição mantida apenas entre os filhotes, como as cantigas infantis entre os humanos”, de acordo com Wrangham. “Isso indicaria que as tradições comportamentais dos chimpanzés são mais parecidas do que imaginávamos com as humanas”, afirmou.

O artigo Sex differences in chimpanzees' use of sticks as play objects resemble those of children (doi:10.1016/j.cub.2010.11.024), de Richard Wrangham e Sonya Kahlenberg, pode ser lido por assinantes da Current Biology em www.cell.com/current-biology.

Asas de ataque


O Xenicibis, membro da família do íbis (Threskiornithidae) que viveu há cerca de 10 mil anos, não voava. Mas suas asas eram muito importantes, sendo usadas como um tipo de arma.

A descoberta foi feita por um grupo de paleontólogos da Universidade Yale e da Instituição Smithsonian e será descrita em artigo publicado esta semana na revista Proceedings of the Royal Society B.

Segundo o estudo, a ave, que viveu na região onde hoje se encontra a Jamaica, usava as asas como uma espécie de mangual, tipo de arma medieval que consiste em uma base unida por uma corrente a outra peça (por exemplo, uma bola de ferro), essa última usada para golpear os adversários.

“Nenhum animal conhecido evoluiu dessa forma, usando seu corpo como se fosse um mangual. É o armamento mais especializado em uma ave de que temos notícia”, disse Nicholas Longrich, de Yale, que liderou o estudo.



Na pesquisa, os autores analisaram esqueletos parciais recentemente descobertos de Xenicibis e verificaram que as asas eram muito diferentes de qualquer outra espécie conhecida, atual ou extinta. “A princípio, achamos que se tratava de um tipo de deformidade”, disse Longrich.

A ave, que tinha o tamanho de um grande frango, era anatomicamente parecida com outros membros da família do íbis, exceto pelas asas, que incluíam ossos curvos e grossos nas extremidades. O Xenicibis também tinha ossos no peito mais largos e asas mais longas do que a maioria das aves que não voam.

Existem outras aves que batem nas outras com suas asas, mas o Xenicibis é o único animal conhecido até o momento a usar suas “mãos”, ligadas a juntas nos pulsos, como se fossem tacos de beisebol, girando e golpeando os oponentes. Embora as espécies de íbis atuais não façam isso, são aves muito territoriais, com os machos frequentemente brigando entre eles.

Segundo o estudo, é possível que o Xenicibis também usasse suas asas como defesa contra outros animais e para proteger seus ovos e filhotes. Outra característica inusitada da ave é nunca ter desenvolvido a capacidade de voar, mesmo diante de um grande número de predadores, como répteis, macacos e outras aves.


Nos ossos analisados, Longrich e colegas encontraram evidências de combate, entre as quais ossos fraturados de modo a demonstrar a extrema força aplicada pela ave pré-histórica.

O artigo (doi: 10.1098/rspb.2010.2117) pode ser lido por assinantes da Proceedings of the Royal Society B em http://rspb.royalsocietypublishing.org.